A experiência de ouvir vozes: possibilidades de cuidado e o grupo Ouvidores de Vozes

jun 25, 2022 | 0 Comentários

A experiência de ouvir vozes, também conhecida como alucinações auditivas verbais, é comum entre pessoas com diagnóstico de esquizofrenia e outros transtornos psicóticos. Pesquisas apontam que a experiência de “ouvir vozes” pode afetar cerca de sete a cada 10 pessoas com diagnóstico de esquizofrenia1.

Algumas pessoas não se incomodam em ouvir vozes, sendo que, às vezes, essas vozes podem até ser vistas como positivas, úteis e boas companhias para elas. Em contrapartida, outras pessoas podem ouvir vozes desagradáveis. Essas vozes podem causar sentimento de medo e angústia, mudanças no comportamento e, ainda, gerar dificuldades para realizar suas atividades do dia-a-dia.

Atualmente existem diferentes abordagens para auxiliar a aliviar o impacto da experiência de ouvir vozes, como, por exemplo, tratamento com medicamentos, acompanhamento psicológico e psiquiátrico, e grupos terapêuticos. Além do tratamento, a pessoa que convive com as vozes também pode utilizar diferentes estratégias para lidar com as vozes2.

Confira algumas dicas para pessoas que ouvem vozes:

  • Procure pessoas de sua confiança para conversar sobre suas experiências e emoções;
  • Busque suporte de profissionais de saúde para cuidar de sua saúde mental;
  • Faça atividades prazerosas e agradáveis: ouça música, dance, leia, saia para passear, medite, faça exercícios físicos e busque realizar atividades na natureza;
  • Não perca a esperança de um futuro melhor e não se sinta envergonhado por “ouvir vozes”;
  • Tente entender qual o significado que “ouvir vozes” tem para você e para a sua vida. É possível ouvir as vozes, explorá-las, entendê-las e confrontá-las. Você não precisa concordar com o que elas falam e nem fazer o que elas mandam!
  • Conheça quais situações que você vivencia que podem piorar as vozes;
  • Escreva sobre os seus pensamentos, sentimentos e atitudes;
  • Participe de grupos de apoio e conheça outras pessoas que também ouvem vozes.

É importante destacar que cada pessoa tem seu próprio jeito de lidar com as vozes, mas é sempre legal explorar outras formas para lidar com essa experiência.

Grupo de Ouvidores de Vozes

O grupo de Ouvidores de Vozes foi proposto pelo Movimento Internacional de Ouvidores de Vozes, na década de 1980, e é uma nova abordagem para o cuidado das pessoas afetadas por essas alucinações auditivas. Esse grupo tem como proposta proporcionar às pessoas que ouvem vozes momentos de interação, de troca de experiências, de maior entendimento sobre as vozes e de como lidar com elas. Além disso, o grupo é um espaço seguro, de acolhimento e sem preconceitos, onde os participantes podem se expressar, refletir e dar sentido para tudo o que vivenciam ao ouvir vozes.

Os grupos de Ouvidores de Vozes acontecem em diversos países em todo mundo, inclusive em algumas cidades brasileiras, como Campinas (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Ribeirão Preto (SP).

Em Ribeirão Preto, município do interior do estado de São Paulo, o grupo de Ouvidores de Vozes surgiu em 2015, sendo coordenado pela professora Clarissa Mendonça Corradi-Webster do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Psicopatologia, Drogas e Sociedade (LePsis) da Universidade de São Paulo. Uma das conquistas deste grupo foi a aprovação do “Dia de reconhecimento dos Ouvidores de Vozes”, comemorado, anualmente, em 14 de setembro, no município de Ribeirão Preto. Nessa data, são realizadas ações para aumentar a conscientização da sociedade sobre a importância de conhecer as histórias que as pessoas que ouvem vozes têm a contar4. Além disso, o grupo desenvolveu um documentário retratando o cotidiano de algumas pessoas que ouvem vozes e mostrando como elas lidam com essa experiência em suas vidas. É possível assistir ao documentário, gratuitamente, por meio deste link.[1] 

O grupo Ouvidores de Vozes de Ribeirão Preto realiza encontros presenciais na cidade de Ribeirão Preto e também oferece reuniões remotas, ou seja, por meio da internet, possibilitando a participação de pessoas de diferentes regiões do Brasil4. Acesse o website do grupo para mais informações sobre os encontros e outros materiais educativos disponíveis, clicando neste link.

Referências:

  1. Waters F, Fernyhough C. Hallucinations: A Systematic Review of Points of Similarity and Difference Across Diagnostic Classes. Schizophr Bull. 2017 Jan;43(1):32-43. doi: 10.1093/schbul/sbw132.
  2. Kalhovde AM, Elstad I, Talseth AG. “Sometimes I walk and walk, hoping to get some peace.” Dealing with hearing voices and sounds nobody else hears. Int J Qual Stud Health Well-being. 2014 Mar 26;9:23069. doi: 10.3402/qhw.v9.23069.
  3. Kalhovde AM. Å høyra meir enn dei fleste. Forståande perspektiv på levd erfaring av å høyra stemmer og lydar. [Hearing More Than Most Comprehensive Perspectives on the Lived Experience of Hearing Voices and Sounds] (Master’s thesis) 2005. Retrieved from Munin open research archive.
  4. Ouvidores de Vozes Ribeirão Preto. Website Ouvidores de Vozes de Ribeirão Preto. Disponível em: <https://sites.usp.br/ouvidoresdevozes/>. Acesso em: 08 de jun. de 2022.

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Loading...