Tratamento como prevenção (TasP)
No Brasil, atualmente as diretrizes de tratamento para a infecção pelo HIV recomendam a oferta da terapia antirretroviral (TARV) a todas as pessoas vivendo com HIV, independentemente da contagem de CD4. Esta recomendação baseia-se nos benefícios para a saúde de iniciar a TARV precocemente para as pessoas vivendo com HIV, e ainda tem como outro importante benefício – a prevenção do HIV 1.
Indetectável é realmente igual a Intransmissível?
Você pode ter ouvido a frase indetectável = intransmissível. Esta mensagem foi criada para divulgar os benefícios do tratamento para prevenir o HIV entre parceiros sorodiferentes (ou seja, quando um dos parceiros é HIV-positivo e o outro HIV-negativo).

Indetectável = intransmissível
O uso consistente e correto do tratamento antirretroviral (TARV) por pessoas vivendo com HIV para manter uma carga viral indetectável é uma estratégia altamente eficaz para prevenir a transmissão sexual do HIV. Quando essa estratégia é usada de forma consistente e correta, não há risco de transmissão sexual do HIV 2.
Se você é uma pessoa que vive com o HIV, é importante saber que:
- A adesão à TARV é essencial para a realização e manutenção de uma carga viral indetectável (geralmente com menos de 40 ou 50 cópias do vírus por mililitro de sangue);
- Em geral, leva de três a seis meses para conseguir uma carga viral indetectável. Portanto, existe risco de transmissão do HIV logo após o início da terapia antirretroviral – antes que a carga viral se torne indetectável. E para saber se a sua carga viral atingiu níveis indetectáveis é necessário realizar um teste de carga viral;
- A manutenção de uma carga viral indetectável sustentada por pelo menos seis meses é necessária para que essa abordagem seja eficaz. Existe também o risco de transmissão do HIV se o tratamento não conseguir manter a carga viral do parceiro soropositivo em níveis indetectáveis. Isso geralmente acontece devido à baixa adesão ao tratamento, mas também pode acontecer por causa da resistência às drogas. O teste regular de carga viral é a única maneira de monitorar uma carga viral indetectável sustentada;
- São necessárias consultas com a equipe de saúde regulares para cuidados contínuos, incluindo monitoramento de carga viral. Assim, nós incentivamos as pessoas que vivem com o HIV a fazer testes regulares de carga viral se quiserem usar os antirretrovirais para manter uma carga viral indetectável para prevenção, além do benefício para sua própria saúde. E, também estimulamos a discussão dos resultados dos testes de carga viral com seus parceiros de forma contínua (se possível);
- O uso da carga viral infectável evita a transmissão do HIV, mas não protege contra a transmissão ou aquisição pelo parceiro soropositivo de outras infecções sexualmente transmissíveis durante as relações sexuais.
A decisão de usar a TARV e a carga viral como estratégia de prevenção é uma decisão e um direito que você e sua parceria sexual podem tomar com base na avaliação do que é melhor para vocês. Se tiver dúvidas procure aconselhamento com profissionais de saúde da sua confiança. A equipe de saúde deve orientá-lo sobre os riscos e benefícios da escolha do método de prevenção e respeitar a sua autonomia. Ter acesso a todas estas informações pode ajudá-lo a tomar uma decisão.
Para muitas pessoas que vivem com HIV, tornar-se indetectável e saber que não podem transmitir o HIV tem sido um ponto de virada na maneira como encaram sua vida sexual. Isso permitiu que eles deixassem de pensar no sexo em termos de infecção e risco e se concentrassem nos aspectos do prazer e satisfação sexual.
Ufa! Com essa infinidade de opções de prevenção, fica difícil escolher qual usar. Sabe de uma coisa? Use o que você tiver acesso e o que se sentir mais confortável. Ok? Na “hora H” vale tudo, inclusive escolher junto com a parceria qual vai satisfazer mais os envolvidos, sem perder a segurança.
Usar preservativo mesmo com HIV?
O preservativo é um método de prevenção que pode ser adotado pelas pessoas vivendo com o HIV/aids e suas parcerias sexuais. Os preservativos, quando utilizados de forma consistente e correta, são altamente eficazes na prevenção da transmissão sexual do HIV e outras IST e são considerados um componente importante da prevenção combinada do HIV.
Algumas pessoas têm dificuldade de usar o preservativo, sendo que os motivos incluem:
- A perda da sensação de prazer, intimidade e confiança na parceria
- Desejo do casal de engravidar e ter filhos
Preocupações e limitações com uso do preservativos incluem dificuldades técnicas para a colocação do preservativo, medo de perder a ereção, falta de lubrificação, desconforto e dor ao usar o preservativo, dificuldade negociação de uso, relação sexual não planejada, uso de substância antes da relação sexual e não ter um preservativo disponível.
Por outro lado, a produção e os tipos de preservativos têm se expandido, com diferentes tamanhos e uma variedade de texturas que resultaram em melhor aceitação e acessibilidade.
As parcerias sexuais heterossexual ou homossexual soronegativas ao HIV que tem um parceiro HIV-positivo (também chamados de casais sorodiferentes), podem adotar o preservativo, particularmente quando o parceiro soropositivo tem uma má adesão ou adesão irregular ao tratamento em que a carga viral encontra-se detectável, e portanto existe o risco de transmissão do HIV.
Entre os casais soroconcordantes, ou seja, quando ambos os parceiros são soropositivos ao HIV, o preservativo pode ser um método eficaz de prevenção. Como falamos, ter uma carga viral indetectável não impede que você adquira outras IST, como clamídia, herpes, gonorreia e sífilis. Os preservativos podem reduzir o risco de muitas IST, e você pode usá-lo como estratégia eficaz.
Profilaxia PrÉ-Exposição, PrEP para soropositivos?
A profilaxia pré-exposição (PrEP) tem se mostrado altamente eficaz para a prevenção da infecção pelo HIV quando usada regularmente. Entre parcerias sexuais entre casais sorodiferentes, a PrEP pode ser utilizada pelo parceiro HIV negativo, não para os soropostivos, pois pode oferecer proteção adicional contra a transmissão do HIV. As parcerias sexuais heterossexual ou homossexual sorodiferentes podem fazer uso da PrEP como estratégia de prevenção para aqueles que não fazem uso irregular do preservativo, múltiplas parcerias e/ou para o planejamento reprodutivo de casais sorodiscordantes.3
Muitos casais sorodiferentes ao HIV enfrentam o medo da transmissão do HIV, o que pode levar à perda da intimidade sexual em relacionamentos e até mesmo abandono de planos de ter filhos e o uso da PrEP fortalece as relações ao reduzir medo da transmissão do HIV e aumento da intimidade sexual entre o casal 4
Referências:
1 BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Disponível em: http://www.aids.gov.br/pt-br/tags/publicacoes/protocolo-clinico-e-diretrizes-terapeuticas
2 Rodger, A.J.; Cambiano, V.; Bruun, T.; Vernazza, P. Collins, S.; Degen, O. et al. Risk of HIV transmission through condomless sex in serodifferent gay couples with the HIV-positive partner taking suppressive antiretroviral therapy (PARTNER): final results of a multicentre, prospective, observational study. Lancet., v.15, n.393 (10189), p.2428-2438, 2019. doi: 10.1016/S0140-6736(19)30418-0. Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(19)30418-0/fulltext
3 Koff A, Goldberg C, Ogbuagu O. Condomless sex and HIV transmission among serodifferent couples: current evidence and recommendations. Ann Med. 2017;49(6):534-544. doi:10.1080/07853890.2017.1320423
4 Nakku-Joloba E, Pisarski EE,Wyatt MA, et al. Beyond HIV prevention: everyday life priorities and demand for PrEP among Ugandan HIV serodiscordant couples. J Int AIDS Soc., v.22, n.1, 2019. doi:10.1002/jia2.25225 Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30657642/